E da vida escorregou um fino fio, que se entrelaçou nos lábios da morte, que por ironia vestia preto na ocasião. Foi assim, rápido, indolor e sem grandes emoções, que a vi partir. Minhas mãos tremulas apoiaram-se na cama e recuram no primeiro toque da pele morta e quente, meus dedos caminharam até sua face macia e branca, fecharam os olhos azuis que agora estavam vidrados em algum ponto perdido do teto nojento e velho do hospital. Meu corpo de arqueou, e em respeito e amor, abaixei-me lentamente até seus lábios, carnudos e rosados, deixei então  que os meus lábios despejassem sua corrente elétrica e viva, nos dela que jaziam quietos e mortos. Observei sua imagem, parecia dormir, e realmente dormia, dormia um sono profundo de outra dimensão, uma dimensão desconhecida, registrei sua ultima imagem, uma imagem angelical. Girei sobre meus calcanhares, senti meus saltos altos e agudos traçarem a rota de saída, afinal, logo mais chegariam os parentes, amigos e familiares, que nem sequer suspeitavam do caso lésbico que eu e minha grande, agora falecida, amada mantínhamos a alguns anos. Minhas mãos apertaram com força a maçaneta gelada, o contato com a superfície fria fez com que meus dedos tentassem recuar, lancei um ultimo olhar para o leito cheio de corpo físico e vazio de alma, e meus lábios finalmente se abriram, emitindo um breve e rouco sussurro " Um dia nos encontraremos novamente"...

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