Se minha vida tivesse trilha sonora...

Era como se o meu coração saísse do peito, e batesse naquele momento ali diante dos meus olhos. Ele me puxou para mais perto, perguntou o meu nome, eu fiquei em silêncio, e ele também, nos olhamos por mais  alguns segundos, e chegamos juntos então a conclusão de que o meu nome  não importava, de que nada mais importava. A música ecoava ao fundo, era uma melodia rápida, mas agora parecia ser lenta, ao menos na minha cabeça era, tudo em volta se transformou em uma grande massa colorida, de cores e odores indistintos, minhas mãos começaram a transpirar e minha cabeça a rodar, o seu cheiro doce e amadeirado me embriagava cada vez mais, a pouca distância mantida, queimava minha pele com o vapor quente de calor que emanava da dele.
Seus olhos híbridos de uma espécie de azul rajada de castanho, me fitaram, apreciei  suas pupilas dilatarem, tudo era muito irreal, era como se estivesse sonhando naquele momento. Sem hesitar, e sem recuar, deixei que as mãos dele se entrelaçassem com meu corpo, pequeno e branco. O rubro de meus lábios tingiu sua camiseta alva, senti meu coração acelerar como o motor de um carro potente em partida de uma corrida, então após o alavanque da acelerada, segurei firme com os dedos dos pés, o freio imaginário de meu automóvel, mas de nada adiantou, minhas pernas foram amolecendo e meus músculos relaxando. Os lábios dele começaram a explorar meu pescoço em busca dos meus lábios, subiam e desciam. E quando finalmente o corpo ele venceu a luta sobre o meu, seus lábios pararam a alguns centímetros dos meus, seu hálito quente me deixou atordoada... Ao fundo a música mudou, e começou então a tocar a minha trila sonora... “Baby, I love you- The Ramones”, não sei se foi real, não sei se essa música realmente ecoou por todo o salão, mas na minha cabeça foi real, e então finalmente senti seu beijo, seu gosto, sua temperatura, tudo ali, tão próximo, tão desejado...


E da vida escorregou um fino fio, que se entrelaçou nos lábios da morte, que por ironia vestia preto na ocasião. Foi assim, rápido, indolor e sem grandes emoções, que a vi partir. Minhas mãos tremulas apoiaram-se na cama e recuram no primeiro toque da pele morta e quente, meus dedos caminharam até sua face macia e branca, fecharam os olhos azuis que agora estavam vidrados em algum ponto perdido do teto nojento e velho do hospital. Meu corpo de arqueou, e em respeito e amor, abaixei-me lentamente até seus lábios, carnudos e rosados, deixei então  que os meus lábios despejassem sua corrente elétrica e viva, nos dela que jaziam quietos e mortos. Observei sua imagem, parecia dormir, e realmente dormia, dormia um sono profundo de outra dimensão, uma dimensão desconhecida, registrei sua ultima imagem, uma imagem angelical. Girei sobre meus calcanhares, senti meus saltos altos e agudos traçarem a rota de saída, afinal, logo mais chegariam os parentes, amigos e familiares, que nem sequer suspeitavam do caso lésbico que eu e minha grande, agora falecida, amada mantínhamos a alguns anos. Minhas mãos apertaram com força a maçaneta gelada, o contato com a superfície fria fez com que meus dedos tentassem recuar, lancei um ultimo olhar para o leito cheio de corpo físico e vazio de alma, e meus lábios finalmente se abriram, emitindo um breve e rouco sussurro " Um dia nos encontraremos novamente"...
É  como se perder duas vezes... MAS NÃO SE ENCONTRAR NEM UMA...
Sinto nossos corpos se movimentarem ao ritmo da música, suas mãos descem para minha cintura, e uma onda de eletricidade me invade; mordiscando os lábios desejo que continue, beijando minha sanidade desejo que pare;é difícil, é improvável, querer que essa agitação, instalada com a sua chegada,  cesse;  a multidão não existe, mas ela nos observa, minha malicia persiste e continuamos no embalo da perdição; e no fundo, sei que estamos nessa pista de dança a muito tempo, mas não me interessa, até mesmo porque muito tempo para mim e para você ainda é pouco demais
Este coração que me roubou o joão, e essa pia de louças sujas que me restou, até parece poesia de terapia, esfrego os pratos e espero que me esfreguem a alma, já perdi a calma, o que me resta é frustração, um amor assim não acaba, ao menos não para mim. E mesmo que a felicidade me sorria novamente, eu juro que não a sorrirei de volta, porque esse tempo perdido carregado de sofrimento, esfriando meu corpo que se prende ao cimento desse ódio, ódio do abandono, não volta, não retorna. E o que te desejo agora João é que, as chagas do desprezo consuma o seu coração que colocou em depressão.

VENTOS

Há ventos que sopram na direção que devem soprar, indiferentes a respeito de certo e errado, de futuro e passado, incoerentes de verdades e mentiras, inerente a amor ou ódio.

Respired

Não me sinto inspirada, na verdade me sinto respirada, respirada pela dor, pelo medo, pelos segredos e hipocrisias, respirada assim como as ondas do mar que são tragadas para seu interior, respirada assim como a fumaça do cigarro aceso que morre aos poucos pela brasa.

MORTE

Quando você chegou, eu estava tranquila, senti seus dedos negros roçarem meus lábios e se perderem nas plumas de minha alma, seu vento frio invadir minhas vestes e soprar minhas lembranças. Seus olhos me fitaram por alguns segundos antes de você chegar, eu senti você me observar, e eu sei que você não queria a mim levar, mas fazer o que? Afinal, nem a MORTE, pode hesitar, mas  quando a minha vida você veio ceifar, você se encarregou de a tranquilidade antes me enviar.
Para dia preguiçosos, frases curtas...
Para dias felizes, leituras inspiradoras...
Para dias ruins, caneta e papel...
Nem sempre sou feita de poesia, as vezes sou feita apenas de memórias, histórias e amores. Que nem sequer passaram da primeira linha, mas que fizeram um grande rascunho em minha vida...

E é quando encosto minha cabeça no travesseiro que, o seu rosto me vem, me vem leve e solto, me vem para me atormentar, me vem para me fazer indagar mais uma vez, de como poderia ter sido, uma vez que nunca foi...
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