Sobre hoje...

E quando eu vejo quem eu sou, sinto vergonha, vergonha de ser tão assim, insuficiente para mim mesma, tão vazia,  e ao mesmo tempo tão cheia de tristezas e sentimentos ruins. E não há um dia sequer que eu levante de minha cama e me sinta especial, porque eu não sou,  na maioria das vezes sou uma verdadeira farsa, um verdadeiro amontoado de mentiras, projetadas para alegrar as pessoas a minha volta. E isso é triste, muito triste, porque pior do que sentir, é não sentir, e eu acho que não sinto, nunca senti, me culpo muito por isso, vai ver eu estou certa, vai ver eu tenha criado uma casca impenetrável ao amor, aos sentimentos bons e ruins. O pior de tudo é saber que ninguém me entende, e que ninguém nunca vai me entender, as vezes eu só queria desaparecer, MAS O INVISÍVEL, NÃO PODE SE TORNAR INVISÍVEL DUAS VEZES.




Resolvi: Quero desistir dessa caminhada acima de uma trilha de pregos, dito essas palavras me entrego ao mais profundo e obscuro lado de meu ser, resolvo me deixar para depois e duvidar de qualquer capacidade em mim depositada, me rendo, me deixo vulnerável a tudo o que não me acrescenta, experimento agora então, um sabor sem sabor da vida, um gosto de nada nas manhãs, uma pitada de indiferença nas tardes e um toque de desânimo nas noites. Nada me satisfaz, nada me completa, nada quero, nada sou. Mas continuo caminhando, e nessa caminhada é interessante observar o tamanho de nossa força, através do vidro das decepções da vida, e mais interessante ainda, é observar o carinho que os nossos semelhantes podem revelar em momentos difíceis, fazendo se assim  pilares das pontes que sustentam nossa passagem por todos os abismos que encontramos em nossas caminhadas, sem esses pilares eu jamais poderia fazer a travessia por pontes seguras. Mas ao caminhar mais um pouco, encontro sempre algo além de pilares, algo que talvez não parece de grande utilidade, mas que rege a força que me sustenta, que alimenta meu coração e, minha alma com apenas um sopro de vento, ou então, um raio de sol. encontro Deus, em todas as frestas escuras que tentam dominar a minha fresta de amor próprio. Sei que talvez ser religioso demande tempo de alguns, mas para mim  não, assumo que não me entrego aos edifícios que se dizem edificados pelo toque divino, ou pela presença de uma divindade, mas acredito eu que Deus está além das paredes, além da compreensão, além de tudo o que busco, e em tudo o que busco, mesmo que essa não pareça minha intenção, devo dizer que ela é, pois nada me resta a não ser Deus. É por Deus que não desisto, embora eu hesite, mas sei que as forças irão aparecer todas as vezes que eu voltar o meu olhar para o céu, ou inclinar minha cabeça para as maravilhas criadas exatamente para mim.

Maçãs

Sinto o cheiro das maçãs, sigo entre as ramas verdes que escondem a passagem, minha essência vai esgueirando-se por entre as folhas que cobrem os raios de sol, marcando assim o meu rastro na busca do paraíso. O ar é frio, o sol mais ainda, é como se hoje ele não estivesse ligado na tomada do mundo, respiro fundo, sinto o ar penetrar meus pulmões, tento esquecer-me do cheiro, mas não consigo, ele aguça meu olfato e se aloja nos meus pensamentos. Minha boca enche-se d'água, minhas mãos apalpam a si mesmas, como se quisessem apalpar  o fruto suculento e vermelho que as aguarda. Levanto o olhar para o céu, tampouco vejo, pois as copas das árvores se estruturam em vértices arquitetônicas. Um estalo, um olhar, um empurrão...  Enfim estou dentro, meu coração dispara, meu paladar entra em torpor, lágrimas escorrem de meus olhos. Finalmente descanso então, aos pés de uma das macieiras no pomar secreto das maçãs, deixo meus dedos agarrem uma das frutas, e sinto meus dentes cortarem a casca da fruta, logo após penetrarem em sua poupa fresca, o liquido da suculência escorre por meu pescoço, o sabor invade meu estômago, que parece sorrir agradecido pelo delicioso fruto. Agarro aos pés da
árvore que gerou esse fruto, e sussurro com a boca cheia: "-Muito obrigado!"
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